11. Dedicação

Verfasst am: 12. November 2016 von Barbara Keine Kommentare

Dedicação

A paciente idosa na cama ao meu lado estava muito doente e muito irrequieta. Mexia-se na cama de um lado para o outro, as suas pernas estavam sempre a lutar com o lençol, enquanto falava em voz alta, mesmo durante a noite, sim, especialmente antes de adormecer. Eu escutava para ver, se podia entender qualquer coisa? Estava a falar em português? Ou eram simplesmente uns sons quaisquer?

Esta D. Odília tinha uma voz muito agradável e falava amavelmente como uma professora ou educadora infantil, que explica alguma coisa a uma criança ou que lê em voz alta. O que ela murmurava ou falava não me incomodava, só me questionava, como se ainda existisse uma língua algures, que nenhuma de nós entendia. Deveríamos tirar o tempo para uma longa conversa, sentar-nos ao lado da doente e questioná-la ou responder-lhe a perguntas. Mas as enfermeiras, que cuidavam dela com sacrifício, claro que não podiam estar horas ao seu lado a segurar-lhe a mão. Elas já se esforçavam bastante e precisavam de muito tempo e paciência, para a ajudar durante as refeições.

Lembro-me vivamente, quando tinha que dar de comer aos nossos gémeos, que utilizavam todas as artimanhas, para tornar as refeições tão demoradas e ao mesmo tempo tão divertidas, como queriam. Era tão bom, quando vinha a avó com a sua paciência de anjo e sem tempo contado, e pegava na colher e dava de comer a ambos, enquanto contava histórias fantásticas e fazia algumas promessas: “Pronto, agora só mais esta colherzinha, e depois…“

Num certo domingo, veio uma voluntária ou „Senhora de Verde“, as assim chamadas voluntárias na Alemanha. Era muito simpática e discreta, ajudava um pouco os doentes e podia substituir a enfermeira ao jantar. Ela passou muito tempo junto à cama desta senhora idosa, enquanto ia dando, colher por colher, o jantar com muitas palavras carinhosas: „E agora ainda um pouco de puré com legumes. Isso vai-lhe saber especialmente bem, Dona Odília, uns legumes tão finos, com certeza vai gostar de comer. E agora quase já não resta nada da carne tenra. O prato está quase vazio e limpo, diz-se então, que amanhã o sol brilhará. Sim, muito bem, Dona Odília, coma, assim está bem. Assim terá novamente forças, a comida vai torná-la forte e saudável, Dona Odília ….“.

Nesta noite a Dona Odília dormiu toda a noite sossegada e não murmurou uma única palavra.

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