9. Visitas

Verfasst am: 29. Oktober 2016 von Barbara Keine Kommentare

Visitas

Lentamente os meus espíritos vitais começaram a voltar, como se costuma dizer. E como as palavras espirituosas da Mãe Coragem com a sua crítica e vontade agressiva, também voltaram as palavras alemãs que são necessárias para o quebra-cabeças de inteligência da revista ZEIT e que, não sei como, fui perdendo completamente. Onde se meteram por tanto tempo? Se tinham emigrado – até melhor e muito bem para quebra-cabeças, porque muitas vezes procuram belas palavras alemãs antigas desaparecidas como Griesgram=resmungão, Hagestolz=solteirão, Eidam=genro, Muhme=comadre, laben=deleitar-se e ausbedingen=pôr como condição.

Após 10 dias nos cuidados intensivos fui transferida para a enfermaria „normal“, para um quarto de quatro camas. Na despedida houve lágrimas. Pois é, ainda não tinha conhecido as enfermeiras tão competentes como a Ana, a Gilda, a Perpétua e a Sabina. Elas impressionaram-me principalmente por causa da sua maneira enérgica, empenhada e sempre amável, deitando a mão a tudo. Fiquei com uma grande afeição a todas elas.

O meu marido visitou-me quase todos os dias. Por vezes, viveu num quarto de hotel, porque não podia voltar constantemente para a nossa aldeia no norte de Portugal. Subiu muitas vezes, enfrentando as ventanias de abril, durante três quartos de hora o caminho até à clínica e não mediu esforços para chegar à sua mulher gastando até os sapatos (Mais tarde mostrou-me as solas e os tacões completamente desgastados). Mas não só o caminho longo e difícil provocou dificuldade. Uma visita a um doente num hospital português, que tem um prazo de tempo muito limitado, não é nada fácil. Na entrada estão Seguranças em uniforme. Temos que nos identificar e também não se pode aparecer como clã de família com vários membros. Com o seu guarda-chuva vermelho de tamanho gigante o meu marido provocou tantas suspeitas como se estivesse a carregar um taco de basebol. Muito rigoroso foi o controle no dia em que houve, no estádio do Benfica mesmo ao lado, o jogo Benfica Lisboa contra o 1º FC Bayern. Toda a cidade estava a vibrar de ansiedade e nervosismo. Mas para os pacientes, estas medidas de segurança realmente são muito tranquilizantes.

Mas também apreciei a visita das outras pacientes ao meu lado: Chegou uma senhora muito bela e delicada, que visitava a sua pequena filha. Ficou sentada sossegadinha ao lado da cama da sua filha doente e lembrou-me as mães dos animais, que se deitam ao lado das suas crias que brincam. Parecem estar a descansar, mas ao mesmo tempo observam rigorosamente e seguem tudo com muita atenção. Por exemplo, o nosso gato doméstico com as suas 5 crias, ou uma mãe leoa, que vi num filme, comportam-se assim.

A filha da minha vizinha da cama ao lado trouxe um conjunto de tratamento das unhas, para arranjar as unhas da sua mãe. Por vezes vinham os familiares para as refeições, para ajudar a dar a comida. Porque realmente sabe muito melhor em companhia e com alguma boa disposição.

Fiquei muito contente com a visita da Pastora da Igreja Evangélica Alemã. Conhecia a jovem mulher da televisão, onde tinha pronunciado a „Palavra de Domingo“. Deus tem um “pessoal de baixo” fantástico, pensei na altura com admiração.

Uma vez houve um problema numa enfermaria: Faltou um lugar para um paciente acabado de ser internado. A sua cama não podia ficar durante a noite na passagem. Por isso, as enfermeiras perguntaram, se podiam pôr este paciente masculino no único lugar disponível – no nosso quarto – por detrás das cortinas de separação.
No dia seguinte vi esse paciente na sala de dia e disse ao meu marido: „Olha, esse é o senhor com o qual passei a noite.”

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