7. Salvação

Verfasst am: 9. Oktober 2016 von Barbara Keine Kommentare

Salvação

Por trás das enormes janelas baloiçam palmeiras, abanam folhas da bananeira e brilham flores de hibisco vermelhas. Sobre tudo isto estende-se um céu azul, no qual planam gaivotas.

Estava sentada no átrio do Centro Oncológico Fundação Champalimaud em Lisboa, olhava para o jardim tropical e esperava. Este Centro de Investigação foi edificado com donativos do empresário e multimilionário António Champalimaud e equipado com os aparelhos mais sofisticados para a luta contra o cancro. Fica na margem do Tejo junto à foz do Atlântico e é arquitetonicamente duma grandeza de conter a respiração. Um exemplo disso é a ponte de vidro entre os dois edifícios que é destacada nas revistas técnicas, e os portugueses contam verdadeiras histórias milagrosas das possibilidades médicas: “Temos em Lisboa este Instituto de Investigação do Cancro ultramoderno com o acelerador linear de nome EDGE, que pode remover tumores, mesmo que já se tenham formado metástases“. Dizem: “Agora estás em boas mãos! Agora vai ficar tudo bem. Temos os melhores médicos e os melhores aparelhos. Portanto, a Fundação Champalimaud é a tua salvação, tu vais ver!”

O tio Augusto, já com uma certa idade, contou-me com entusiasmo do seu trabalho na Companhia de Seguros Mundial Confiança sob a direção do Senhor Champalimaud e dos tempos antes da revolução e do desenvolvimento após a revolução. Ele sabia muito sobre a vida e a Fundação, que se chama Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud, em homenagem ao pai e à mãe alemã Anna Sommer. O tio Augusto disse que eu me podia dar por contente ao ser tratada neste Centro.

Eu realmente dei-me por contente, especialmente depois da nova quimioterapia com o remédio “certo”. Já tinha feito essa terapia há 4 semanas atrás e estava a aguardar com curiosidade e um pouco anciosa sobre o que o oncologista lisboeta iria dizer sobre isso.
Porque é que hoje ele me deixa esperar tanto tempo?
Meus resultados serão maus?
Os químicos não teriam dado efeito, mais uma vez?
Podia fazer qualquer coisa para fazer aparecer o Senhor Doutor?
Como conseguiria eliminar a minha angústia?

As flores de hibisco vermelhas, o céu azul e as gaivotas na luz no sol não me tornaram menos impaciente.
Uma hora.
Duas horas..
O meu medo crescia.
Continuei à espera.

Quando procurei pela primeira vez ajuda neste Centro, sem data marcada, nem transferência ou relatório médico, mas cheia de uma enorme esperança, contava sempre de novo a minha história a todos os médicos e enfermeiros que passavam: „Cheguei aqui após uma longa viagem de 3.000 km da Alemanha e procuro um oncologista, e ficarei aqui sentada até que alguém me ajude.” Uma senhora, que estava a ler um E-Book ao nosso lado e que estava à espera, levantou-se de repente e disse: „Tenho agora uma consulta no meu oncologista e vou pedir-lhe para tratar da Senhora em vez de mim. Dou-lhe a minha marcação.“
Nunca vivi tamanha generosidade. Ainda agora me arrepio e choro de emoção.

Nessa altura, pouco depois apareceu o „meu“ salvador e abraçou-me a mim e ao meu marido como se fossemos velhos amigos.

Mas hoje ele não estava a aparecer.
Três horas.
Quatro horas…
As gaivotas estavam a circular no azul do céu. O átrio estava a ficar cada vez mais vazio. Estavam já a arrumar as termos de café.
Suspirei resignada. Ainda tínhamos à nossa frente uma longa viagem durante a noite. Quem me dera, que o médico aparecesse agora! E que alguém dissesse: „O próximo, por favor!”
Quando afinal chega a minha vez?
Como irá isto continuar? Será que mais uma vez me vão dizer, como após a última quimioterapia infrutífera na Alemanha: „Pronto, está feito, já não podemos fazer mais nada. Terapia acabada.
Será que de qualquer maneira iria continuar ou não?

Aí então, a porta do consultório abriu-se, o médico saiu cá para fora para o átrio, e rindo, acenou para mim e chamou: „Come on, Baby!”

Isso foi uma afirmação de vida tão alegre e vigorante e ao mesmo tempo cómica e despropositada: Todos começaram a rir surpreendidos, quando a „Baby“ careca na idade da reforma se lançou em direção ao oncologista. A minha frustração de espera desvaneceu-se num instante, e já fiquei quase recuperada e, de repente, era uma jovem de apenas vinte anos.

Portanto, sim, Baby, let’s go.

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