Histórias Clínicas ou Segredos de Alcova Lisbonenses
1. Enfermeiras
Através dos meus sonhos movimenta-se a Enfermeira Belinda. Tem uma cabeça redonda de boneca de porcelana com olhos redondos e sobrancelhas fininhas, bochechas redondas e uma boca redonda de boneca. O cabelo preto tem uma risca ao meio e à volta de cada orelha estendem-se cachos de caracóis.
As outras enfermeiras usam o seu cabelo preto e sedoso solto, que percorre as costas todas. Eu vislumbro o cabelo e as bonitas, jovens enfermeiras. Elas são extremamente delicadas e simpáticas, tudo acontece de forma muito silenciosa, todos os ruídos são amortecidos.
Afinal, onde é que eu estou?
Tenho tanto sono e volto a adormecer.
A Enfermeira Belinda retira-se lentamente.
Os anjos delicados com os cabelos longos, pretos esticam o meu lençol e sorriem.
Um dia mais tarde, apodero-me de tanta força e coragem que digo à Enfermeira Isabel: «O seu marido deve-lhe dizer o dia todo “ANJO”». “Não”, diz ela e sorri, “isso ele nunca disse. O meu marido é técnico, ele nem sabe, o que faço aqui.”
Contudo, ela faz muito aqui nos Cuidados Intensivos. É um quarto grande, onde nove pacientes gravemente doentes e acabados de serem operados são tratados. Pode-se montar, através de cortinas, um compartimento à volta de cada cama, mas no espaço aberto não há nada que escape às enfermeiras e aos enfermeiros, nem uma simples respiração ou um movimento dos doentes. Eles flutuam de um lado para o outro e sorriem.