Escritora Polaca lança livro em Vagos                            [alemão]
Armor Pires Mota

A escritora, de origem polaca, Barbara Seuffert, lançou, na penúltima terça-feira, dia 6, o seu último livro, intitulado "Diário Efémero", em português e alemão, evento que decorreu, com brilhantismo no Centro Cultural de Vagos.

SAUDÁVEL HUMOR

O evento, para além das pessoas que envolveu e congregou, acrescentou uma mais valia na parte cultural. É que não foi apenas o livro como elemento cultural principal da noite, Houve outra faceta de fazer e gerir cultura, com a presença do Orfeão de Vagos, a abrir o sarau, mas também o Coral Polifónico de Santo André, a fechar, uma muito agradável surpresa tanto mais que ainda está quente o ninho.
Esta iniciativa esteve integrada na primeira feira do livro e Vagos que, segundo opinião dos organizadores (escolas do concelho de Vagos) constituiu, sem margem para dúvidas, grande êxito, em dois aspectos: muita frequência e procura de livros. De resto, parece ser opinião unânime que os livreiros venderam aqui mais livros do que em feiras similares.
Presentes na mesa que presidiu ao lançamento de "Diário Efémero" a autora, Barbara Seuffert, presidente da edilidade vaguense, Rui Cruz, e a poetisa Fátima Bica, a principal interveniente na acção; também Machado Lopes, duas jovens e um petiz, com gosto pela leitura, que leram alguns textos, característicos de uma obra que prima pela apresentação de quadros vivos da aldeia onde vive, Carregosa, freguesia de Ouca, bem como outras pinceladas de bom recorte literário, com tintas simples, suaves, intelegíveis ao mediano leitor, ligadas por um fio condutor, um saudável e vincado humor que se sobrepõe sempre a qualquer velada crítica, onde quer que ela se insinue.

UM MUNDO DE RECORDAÇÕES

Abriu a sessão Rui Cruz que traçou, a traços largos, mas precisos, o chão da obra, considerando-a "um olhar estrangeiro sobre coisas nossas, que de tão nossas, por vezes, nem reparamos quão belas são", realçando o cunho simples e fluente da escrita, mas de um agradável sabor, de muitos apontamentos, que trazem à ribalta quadros e pessoas de Vagos, especialmente do lugar da Carregosa, onde vive e partilha a sua vida, no aspecto social e religioso. Não lhe passa nada ao lado, sobretudo os usos e costumes trazem-na presa, daí recolhendo o material essencial aos retratos que faz. Não deixa de ser curioso ser uma estrangeira a valorizar ou fixar em letras de forma essa memória colectiva, "um mundo de recordações", vistas com as emoções e o sentimentos de alguém, alheio ao meio, que no entanto acrescenta ao real das histórias e passagens o sal da palavra apropriada e a pimenta necessária de um humor muito humano e benevolente, por isso muito saudável.
Rui Cruz acabou por congratular-se com o facto da autora ter encontrado a sua tebaida numa terra do concelho, ainda que pouco conhecido..

"SITUAÇÕES BURLESCAS"

Fátima Bica, poetisa, do vizinho concelho de Cantanhede, teve a missão, por um lado, de apresentar a autora e, por outro lado, o livro, o que fez através de breves comentários e alguma leitura de alguns trechos, como "O pescador da Vagueira" por Machado Lopes, e outros, bem sintomáticos do que acima já foi dito.
Barbara Seuffert sofreu na carne e na alma as vicissitudes de um tempo difícil, a Grande Guerra, as separações e a revolta contra tudo isso.
Mas como surge a escritora com os pés e o coração no concelho de Vagos?
Foi uma grave doença que a atirou para Portugal, ( "O português é o melhor amante do Mundo", título que deveria ter exactamente o livro "D. Juan e as Marias do campo".
A primeira visita ocorreu em 1983, ano em que o desespero à procura de cura era grande. Tão anavalhada pelo desânimo que chegou a entregar ao marido "quase" trinta títulos de obras para serem queimados. Não foram, porque o companheiro, ao ler, gostou tanto que não cumpriu o pedido. Salvaram-se todos. E de Vagos gostou tanto a escritora que para aqui se mudou de malas e artes.
Sobre o livro, confessou Fátima Bica: gostara tanto que ali estava. Lê-se com facilidade, por entre páginas de "situações burlescas" e "crítica mordaz", e teceu a opinião de que não é sobre uma aldeia que escreve senão sobre o país.
Mostrou-se mesmo convicta de que "há sempre algo mais para além das portas fechadas, uma singularidade das casas da Carregosa e das nossas aldeias. Será este mistério que Barbara Seuffert demanda, pois para ela é intrigante e questiona: "O que é que calam as paredes revestidas de azulejos azuis e as portadas das janelas? Que segredos guarda o silencioso pátio? O que é verdadeiramente a vida portuguesa? Quais são as suas conspiradoras paixões?"