1 Pedro 4,10 Deus deu dons a cada um de vocês; certifiquem-se de que utilizam com sabedoria as muitas formas das bênçãos de Deus, para servir os outros.
Avó Rosa e as cartas de Amor
A Avó Rosa festejou o seu 100º aniversário. Toda a aldeia festejou com ela. Toda a aldeia é composta, aliás, por muitos parentes, filhos e amigos. A Avó Rosa tem 3 filhos e 4 filhas que ainda estão todos vivos. Ela tem 13 netos, 16 bisnetos e um trineto.
Esta simpática, pequena senhora é uma portuguesa típica, vestida de preto com um lenço preto à cabeça, com meias de lã pretas e pantufas delicadas. É assim que ela vai todos os domingos para a igreja e todos os dias à sua filha na mercearia, onde dá duas de treta com quem por lá passa. Conhece todos pelo nome e tem sempre uma palavra amiga para cada um. Nunca ficou doente, teve os 7 filhos em casa, como antigamente era costume. Nunca pisou o chão de um hospital, e também não toma comprimidos, só se for um xarope para a tosse ou um remédio contra constipações. Quando se pergunta pelo segredo da sua saúde, sorri discretamente e diz que sempre se alimentou saudavelmente daquilo que cresce no campo e no quintal. E que trabalhou muito. Especialmente após o falecimento prematuro do marido, quando teve que tratar sozinha da quinta e da terra.
É admirável que esta pequena senhora saiba ler e escrever, porque pertence aos anos em que não havia muito ensino sob o governo de Salazar. Realmente a maior parte dos portugueses mais velhos aqui nas aldeias são analfabetos, principalmente as mulheres, que, como meninas tiveram que trabalhar ou em casa ou no campo. A aprendizagem na escola, normalmente só durante os 4 anos da primária, era privilégio dos filhos.
As vizinhas aproveitaram muitas vezes da amabilidade e capacidade de Rosa, quando recebiam correio dos maridos no estrangeiro e queriam responder. Como quase todos os homens da aldeia trabalhavam como emigrantes na Venezuela, no Brasil, nos EUA, em França e na Alemanha, visitaram a Rosa muitas vezes para ela lhes ler as cartas. As esposas também lhe ditaram as cartas de reposta e enamoradas pediram-lhe para escrever mensagens de amor. Confiou-se no seu silêncio. Assim, ela se tornou a alma da aldeia, e não é de admirar que todos se sintam ligados a esta querida avó por causa da sua tão variada prestação de amor ao próximo e que tenham festejado com ela o seu aniversário.
Numa grande celebração da missa, os habitantes da aldeia e o Padre António, junto com a paróquia, honraram a centegenária, a Avó Rosa, ao irem todos juntos comungar.
Depois levaram-lhe um grande bolo de aniversário com as velas acesas para dentro da igreja. A Avó Rosa teve que soprar as velas, o que ela fez contente, a rir-se como uma criança feliz, e todos cantaram os Parabéns e aplaudiram. E enquanto precisamente neste dia se recordava na Alemanha o início da I Guerra Mundial (Assassinato em Sarajevo) e nas aldeias vizinhas portuguesas se festejava os Santos da aldeia João, António e Pedro e Paulo, realizava-se na nossa aldeia uma festa cristã alegre em família com beijos e abraços sem fim.
Barbara Seuffert, 2014
(TRADUÇÃO DO ALEMÃO PARA O PORTUGUÊS para Manuela Giebelhausen de Campos Pinto Ribeiro, Porto)