12,1 Duas Histórias de Alcova

Verfasst am: 21. November 2016 von Barbara Keine Kommentare

I. A cama errada

Um quarto de hospital com 4 camas. Fim de tarde. Os outros pacientes estão a dormir. Numa cama está sentada uma paciente toda encolhida em frente à cabeceira, que tinha sido colocada na vertical, para que a paciente pudesse estar sentada com as costas direitas. A paciente não se consegue mexer e gostaria de se esticar, mas não sabe como pôr a cabeceira para baixo. Toca à campainha para chamar uma enfermeira.

Não se passa nada.
A paciente toca uma segunda vez.
Uma senhora (espreita pela porta e desliga a campainha):
Hoje não temos tempo.
A paciente, passado algum tempo, toca outra vez à campainha, já não aguenta mesmo estar mais tempo sentada e precisa de ajuda. Em frente ao quarto está o carrinho de chá, uma auxiliar de bata azul segura uma faca de manteiga na mão, com a qual quer barrar um pão e explica indignada:
Hoje não temos tempo.
Paciente: Mas … eu preciso de ajuda.
Senhora com a faca da manteiga: As enfermeiras não têm tempo.
Paciente: Então ajude-me a Senhora, por favor, eu só quero…
Senhora com a faca da manteiga: Isso não me compete a mim. Só as enfermeiras o podem fazer.
A paciente toca de novo.
Uma senhora vem de rompante, não era nenhuma das enfermeiras, era uma jovem senhora, muito irritada pelo incómodo da campainha ter tocado três vezes:
O que se passa? O que deseja?
Paciente, discreta: Quero uma cama, na qual eu possa estar deitada.
Senhora: Mas tem uma cama!
Paciente: Sim, mas…
Senhora: Só temos estas camas.
Paciente: Eu sei disso, mas quero-me deitar, não quero estar sentada.
Senhora: Isto é uma cama. Agora está sentada nela, mas é uma cama verdadeira, na qual se pode estar deitada. Mesmo que agora esteja sentada nela, é uma cama verdadeira.
Paciente: Eu sei. Ajude-me, por favor, para que possa estar deitada.


Senhora: Como???

Nao sabe como se está deitada numa cama???

Abana a cabeça sem compreender e sai apressadamente indignada: Nao sabe como se está deitada numa cama!!!


A paciente está encolhida na sua cama e murmura: Essa agora! Ela pensa mesmo que eu sou demente e não estou no meu juízo todo! É assim com todos que estão velhos e doentes: Somos logo considerados desorientados ou drogados pela medicação. Não pode ser! Hihihi. E agora deixam-me para aqui como um ponto de interrogação partido…

Ri-se.
A senhora com a faca da manteiga na mão espreita pela porta, lança um olhar repreendedor à paciente que se estava a rir e vai embora a abanar a cabeça.

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