3. Modo de Tratamento

Verfasst am: 24. September 2016 von Barbara Keine Kommentare

MODO DE TRATAMENTO

“Olá, Dona Bárbara” e “Dona Maria de Luz, por favor venha” e logo a seguir “Senhor António, vamos!”, chama a assistente do Dr. Vítor.
Aqui todos são tratados pelo nome próprio. Isso cria uma atmosfera muito familiar e simpática. Mesmo os médicos tratam-se só por Dr. Manuel ou Dra. Isabel. No início, isto espantou-me sempre, o modo cordial como eu era cumprimentada e como se despediam de mim nas salas de espera e nas clínicas. Na nossa aldeia e na igreja da aldeia há sempre, por tradição, muitos abraços e beijinhos. Mas, quando, após o tratamento do meu pé doente, até o podologista me cumprimentou com um beijo, pensei: Mais uma vez ninguém vai acreditar em mim… Entretanto habituei-me a isso, porque sinto neste gesto a amabilidade e a seriedade.

Quando alguém me pergunta: “Dona Bárbara, como está?”, essa pessoa espera realmente de mim uma resposta – está mesmo interessada nisso.
Observei que pacientes de mais idade, já um pouco confusos, se sentiam confortados pelo tratamento familiar pelo seu nome próprio, como acostumados da sua infância. Depois sabiam dar uma resposta adequada e informar bem. Sentiam que todo o pessoal médico sabia qual o seu mal.
Quando recebi em Portugal a primeira data para a consulta por e-mail, estava no fim da comunicação realmente “Beijinhos, Artur”. Isto é surpreendente, porque o Dr. Artur é uma sumidade, uma autoridade.

Depois deste e-mail simpático perdi todo o medo e toda a preocupação.
Lembro-me muitas vezes de como me apresentei ao meu novo professor de turma pela primeira vez após uma mudança de escola: “Bom dia, Senhor Möller, eu sou a sua nova aluna.” Rebaixou-me por ter esquecido de nomear o seu título de Doutor.

Desde esse momento sei que a verdadeira grandeza e dignidade humanas não se mostram em títulos, e “Beijinhos, Artur” tem todo o meu respeito e todo o meu carinho.
Um dos médicos cumprimenta cada uma das suas pacientes oncológicas com um alegre “Bom dia, minhas lindas” e colhe muita alegria e admiração divertida. Faz mesmo bem sermos tratadas assim com tanto carinho.
Um outro diz: “Tudo de bom, querida”, o que significa “meu amor” ou ainda melhor “queridinha” ou “tesouro”. No entanto soa muito mais amigável do que Marcel Reich-Ranicki* na sua disputa literária perante as participantes femininas quando dizia: “De maneira nenhuma tem rrrrazão, minha querida!” Eu acho este modo de tratamento bonito. O nosso cão grande e português Serra da Estrela chamava-se “Querida” e deu azo a muita alegria e confusão entre as beldades mais jovens da aldeia, quando o procurávamos e gritávamos “Querida – Schätzchen – Liebling”.
Contudo uma enfermeira de mais idade apressou-se a clarificar, depois da visita, que este médico chama sempre a todas “Querida”. (Para que não me iluda! Hehe!)

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*Marcel Reich-Ranicki (1920-2013) – Autor e crítico literário alemão que falava na televisão em discussões sobre literatura de uma forma muito peculiar.

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