# 12
Ostern im Dorf
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# 12
Páscoa na aldeia
- Este Portugal parece tornar-te mesmo saudável! - Gertraud engordara.
Irradiava felicidade, estava bronzeada e tinha faces rosadas.
A casinha e o jardim estavam quase irreconhecíveis. Tinha-me regozijado
tanto em voltar a ver tudo aquilo com que sonhara durante o longo tempo
da minha doença! Tudo se tornara ainda mais belo, a casa fora rebocada
e pintada de novo. Em lugar do grande telheiro, atrás da casa,
encontrámos um anexo amoroso. No jardim, batiam e rumorejavam operários.
Páscoa - Ressurreição.
Também aqui se mostrava vida nova em todas as criaturas e até
mesmo em suas casas.
Gertraud sofrera uma recaída, praticamente ao mesmo tempo que
eu e passado um longo período na Clínica Grosshadern, em
Munique. Encontrava-se a caminho de recuperar. Rimo-nos da nossa "ressurreição"
e da Primavera que vivíamos em nós próprias. Os meus
pequenos caracóis, que já tinham começado a brotar
durante a terapia, condiziam bem com este tempo pascal em Portugal.
- Estamos convidados para passar a Páscoa em casa do Carlos.
- Mas, se a Páscoa já passou!
- Com certeza, mas aqui, na aldeia, festeja-se uma semana mais tarde.
O padre tem de se ocupar de várias paróquias e não
consegue fazer o trabalho todo só num dos dias de festa.
- Trabalho? Que trabalho? - inquiri, admirada.
- Visita as casas todas para as quais é convidado. Aí, come
à mesa ricamente posta e junta dinheiro.
- Quê? Come nas casas todas? - ecoei eu, divertida. - Então,
deve simplesmente rebentar! Não acredito!
Mas todos asseguraram que, por todo o lado, as mesas vinham abaixo, que
se estufa e se assa e que o padre festeja e come em todas as casas. Iríamos
ver.
Bem, era coisa que eu, na verdade, queria ver!
Para o almoço, em casa do Carlos, estava posta uma mesa comprida
para cerca de 20 pessoas. Pairava no ar um odor maravilhoso a assados,
a cebolas e alhos, ao conhecido Cozido à Portuguesa (uma espécie
de guisado de porco e vaca, com batatas e legumes, preparado em grandes
alguidares e cozinhado no forno).
Regalámo-nos com gosto.
Primeiro, houve sopa, um delicioso e suculento caldo de galinha. Depois,
foram apresentados em diversas travessas diferentes qualidades de peixe
cozido e assado. Na realidade, há muito que estávamos cheios,
quando o prato principal foi servido.
Ao cozido, seguiu-se o assado, acompanhado de batatas novas (Carlos produzione!)
e dos primeiros legumes da horta. O pão, cozido pela Lila, e o
vinho tinto pertencendo, evidentemente, à ementa.
No final era oferecido pelos "doces", a saber, o pudim "flan"
e o bolo doce da Páscoa; depois, um café "mocca",
aguardentes e licores e grossos charutos brasileiros para os homens.
Seguidamente, dirigimo-nos para a sala comum (de estar e de jantar), onde
tudo estava preparado para a visita do padre: as cortinas lavadas de fresco,
bem como as janelas, os estofos e os tapetes limpos, assim como os "bibelôs"
no armário de vidro. Finalmente, tudo isto teria de resistir ao
olhar curioso de parentes e vizinhas!
Ouviu-se repicar ao longe. Do mesmo modo anunciavam a sua presença
a peixeira, o merceeiro e o padeiro. Desta vez era o padre. Os seus acompanhantes
e ajudantes vinham sentados num camião aberto e divertiam-se.
- Como é que o padre sabe que o esperamos?
A Lila apontou para a verdura e para as flores brancas em frente à
porta de entrada: - Aqueles que desejam ser visitados espalham verdura
em frente às portas.
Entretanto, todos os convidados e amigos da casa se reuniram na melhor
sala e permaneciam de pé, embaraçados, com aquela cara característica
de ir à missa, em volta da mesa sobre a qual era oferecido tudo
aquilo que alegra o palato, depois de um copioso almoço: bolinhos
prateados e tartes cobertas de açúcar, bolas cobertas de
chocolate e amêndoas doces, grandes bolos da Páscoa com ovos
e bolos de frutas dourados, montanhas de bolachas e biscoitos, garrafas
de champanhe e de licor e, claro, de vinho do Porto. Talheres de prata,
toalhas adamascadas, copos de cristal e bandejas resplandecentes completavam
o quadro.
E ia o padre consumir tudo isto para, depois, prosseguir até à
casa seguinte e limpar, lá também, com a mesa?
Há um ditado que diz que a Igreja tem o estômago grande.
E os portugueses são grandes comedores, principialmente os das
aldeias. Mas ... parecia-me, ainda, ser impossível.
- Isto é tudo para o padre? - perguntei, mais uma vez. Eles riram
e disseram: - Sim, sim, é tudo para o padre.
- E é a mesma coisa por toda a aldeia?
- Sim, é assim em todas as casas.
O padre entrou na sala, acompanhado do toque de uma campaínha e
de um rancho de homens. Era um padre magro e baixo com cara de intelectual.
Abençoou a casa e os presentes, depois apertou a mão a todos,
murmurando alguma coisa. Atrás dele vinha um ajudante com um crucifixo
erguido, parando ao pé de cada um, dando-o a beijar. Todos estavam
sérios e comovidos.
O dono da casa ofereceu o seu donativo que foi registado na lista pelo
responsável da colecta. Eu olhei pelo canto do olho: Quanto é
que se dava? O quê, tão pouco? É esta a côngrua
para um ano inteiro? Em Portugal, a Igreja e o Estado são separados.
Deste dinheiro tem de viver a Igreja Católica, pensei eu. Mas disto
não poderia ela viver!
Bem, talvez o padre levasse a côngrua em forma de víveres.
Talvez os leve no camião, se não conseguir comer tudo.
Mas o padre deixou a casa sem lançar um olhar para a mesa. Nem
os seus acompanhantes tocaram em nada. Eu estava desapontada.
Mas, mal a procissão tinha desaparecido à esquina, desprenderam-se
os devotos convidados do seu entorpecimento e caíram sobre as lambarices,
qual bando de gaivotas esfomeadas. Deitavam vinho do Porto, ofereciam
licor, faziam estourar as rolhas das garrafas de champanhe, falavam sobre
o preço da toalha de mesa, limpavam a taça dos bombons,
partiam as amêndoas e dispersavam-se pela casa para verem todas
as salas e cantos. - Ah! Um tapete novo! Oh, que colcha bonita! - ouvia-se
exclamar. - Onde é que a compraste? Quanto custou? Também
pões dez ovos neste bolo?
Antes que o padre tivesse entrado na magnífica casa da Fernanda,
uma parente da vizinhança, já há muito que o ajuntamento
lá estava; todos novamente sérios, com mãos cruzadas
e olhos baixos, em volta da mesa, beijaram o Senhor crucificado e lançaram-se
sobre as coisas boas como se se tratasse de escapar de morrer à
fome.
Reflecti.
"Para quê este desperdício?
Esta água poderia ter sido vendida cara
E dada aos pobres."
Será que as pessoas querem agradar a Deus ou aos vizinhos?
Páscoa na aldeia.
Gostaria tanto de compreender esta devoção!
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