PORTUGAL - O MEU AMOR    PORTUGAL - O MEU AMOR

  von Barbara Seuffert

        de Barbara Seuffert

Auszüge aus dem Buch
Meine blauen Träume
von Barbara Seuffert
Stuttgart 1991
ISBN 3-7984-0699-5
Preis: € 10,90

Bestellung bei www.steinkopf-verlag.de

 

Os Meus Sonhos Azuis
de Barbara Seuffert
Tradução de Célia Löffers-Jorge, Hamburg

# 12

Ostern im Dorf

 

# 12

Páscoa na aldeia

- Este Portugal parece tornar-te mesmo saudável! - Gertraud engordara. Irradiava felicidade, estava bronzeada e tinha faces rosadas.
A casinha e o jardim estavam quase irreconhecíveis. Tinha-me regozijado tanto em voltar a ver tudo aquilo com que sonhara durante o longo tempo da minha doença! Tudo se tornara ainda mais belo, a casa fora rebocada e pintada de novo. Em lugar do grande telheiro, atrás da casa, encontrámos um anexo amoroso. No jardim, batiam e rumorejavam operários.

Páscoa - Ressurreição.
Também aqui se mostrava vida nova em todas as criaturas e até mesmo em suas casas.

Gertraud sofrera uma recaída, praticamente ao mesmo tempo que eu e passado um longo período na Clínica Grosshadern, em Munique. Encontrava-se a caminho de recuperar. Rimo-nos da nossa "ressurreição" e da Primavera que vivíamos em nós próprias. Os meus pequenos caracóis, que já tinham começado a brotar durante a terapia, condiziam bem com este tempo pascal em Portugal.


- Estamos convidados para passar a Páscoa em casa do Carlos.
- Mas, se a Páscoa já passou!
- Com certeza, mas aqui, na aldeia, festeja-se uma semana mais tarde. O padre tem de se ocupar de várias paróquias e não consegue fazer o trabalho todo só num dos dias de festa.
- Trabalho? Que trabalho? - inquiri, admirada.
- Visita as casas todas para as quais é convidado. Aí, come à mesa ricamente posta e junta dinheiro.
- Quê? Come nas casas todas? - ecoei eu, divertida. - Então, deve simplesmente rebentar! Não acredito!
Mas todos asseguraram que, por todo o lado, as mesas vinham abaixo, que se estufa e se assa e que o padre festeja e come em todas as casas. Iríamos ver.
Bem, era coisa que eu, na verdade, queria ver!

Para o almoço, em casa do Carlos, estava posta uma mesa comprida para cerca de 20 pessoas. Pairava no ar um odor maravilhoso a assados, a cebolas e alhos, ao conhecido Cozido à Portuguesa (uma espécie de guisado de porco e vaca, com batatas e legumes, preparado em grandes alguidares e cozinhado no forno).
Regalámo-nos com gosto.
Primeiro, houve sopa, um delicioso e suculento caldo de galinha. Depois, foram apresentados em diversas travessas diferentes qualidades de peixe cozido e assado. Na realidade, há muito que estávamos cheios, quando o prato principal foi servido.
Ao cozido, seguiu-se o assado, acompanhado de batatas novas (Carlos produzione!) e dos primeiros legumes da horta. O pão, cozido pela Lila, e o vinho tinto pertencendo, evidentemente, à ementa.
No final era oferecido pelos "doces", a saber, o pudim "flan" e o bolo doce da Páscoa; depois, um café "mocca", aguardentes e licores e grossos charutos brasileiros para os homens.
Seguidamente, dirigimo-nos para a sala comum (de estar e de jantar), onde tudo estava preparado para a visita do padre: as cortinas lavadas de fresco, bem como as janelas, os estofos e os tapetes limpos, assim como os "bibelôs" no armário de vidro. Finalmente, tudo isto teria de resistir ao olhar curioso de parentes e vizinhas!

Ouviu-se repicar ao longe. Do mesmo modo anunciavam a sua presença a peixeira, o merceeiro e o padeiro. Desta vez era o padre. Os seus acompanhantes e ajudantes vinham sentados num camião aberto e divertiam-se.
- Como é que o padre sabe que o esperamos?
A Lila apontou para a verdura e para as flores brancas em frente à porta de entrada: - Aqueles que desejam ser visitados espalham verdura em frente às portas.
Entretanto, todos os convidados e amigos da casa se reuniram na melhor sala e permaneciam de pé, embaraçados, com aquela cara característica de ir à missa, em volta da mesa sobre a qual era oferecido tudo aquilo que alegra o palato, depois de um copioso almoço: bolinhos prateados e tartes cobertas de açúcar, bolas cobertas de chocolate e amêndoas doces, grandes bolos da Páscoa com ovos e bolos de frutas dourados, montanhas de bolachas e biscoitos, garrafas de champanhe e de licor e, claro, de vinho do Porto. Talheres de prata, toalhas adamascadas, copos de cristal e bandejas resplandecentes completavam o quadro.
E ia o padre consumir tudo isto para, depois, prosseguir até à casa seguinte e limpar, lá também, com a mesa?
Há um ditado que diz que a Igreja tem o estômago grande. E os portugueses são grandes comedores, principialmente os das aldeias. Mas ... parecia-me, ainda, ser impossível.
- Isto é tudo para o padre? - perguntei, mais uma vez. Eles riram e disseram: - Sim, sim, é tudo para o padre.
- E é a mesma coisa por toda a aldeia?
- Sim, é assim em todas as casas.
O padre entrou na sala, acompanhado do toque de uma campaínha e de um rancho de homens. Era um padre magro e baixo com cara de intelectual. Abençoou a casa e os presentes, depois apertou a mão a todos, murmurando alguma coisa. Atrás dele vinha um ajudante com um crucifixo erguido, parando ao pé de cada um, dando-o a beijar. Todos estavam sérios e comovidos.
O dono da casa ofereceu o seu donativo que foi registado na lista pelo responsável da colecta. Eu olhei pelo canto do olho: Quanto é que se dava? O quê, tão pouco? É esta a côngrua para um ano inteiro? Em Portugal, a Igreja e o Estado são separados. Deste dinheiro tem de viver a Igreja Católica, pensei eu. Mas disto não poderia ela viver!
Bem, talvez o padre levasse a côngrua em forma de víveres. Talvez os leve no camião, se não conseguir comer tudo.
Mas o padre deixou a casa sem lançar um olhar para a mesa. Nem os seus acompanhantes tocaram em nada. Eu estava desapontada.
Mas, mal a procissão tinha desaparecido à esquina, desprenderam-se os devotos convidados do seu entorpecimento e caíram sobre as lambarices, qual bando de gaivotas esfomeadas. Deitavam vinho do Porto, ofereciam licor, faziam estourar as rolhas das garrafas de champanhe, falavam sobre o preço da toalha de mesa, limpavam a taça dos bombons, partiam as amêndoas e dispersavam-se pela casa para verem todas as salas e cantos. - Ah! Um tapete novo! Oh, que colcha bonita! - ouvia-se exclamar. - Onde é que a compraste? Quanto custou? Também pões dez ovos neste bolo?
Antes que o padre tivesse entrado na magnífica casa da Fernanda, uma parente da vizinhança, já há muito que o ajuntamento lá estava; todos novamente sérios, com mãos cruzadas e olhos baixos, em volta da mesa, beijaram o Senhor crucificado e lançaram-se sobre as coisas boas como se se tratasse de escapar de morrer à fome.
Reflecti.

"Para quê este desperdício?
Esta água poderia ter sido vendida cara
E dada aos pobres."

Será que as pessoas querem agradar a Deus ou aos vizinhos?
Páscoa na aldeia.
Gostaria tanto de compreender esta devoção!