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01
Sie trägt immer nur Röcke.
Mit kurzem Rock, ein Wolltuch um Kopf und Schultern, barfuß
in Filzpantöffelchen kommt sie abends ganz leise durch den Vorgarten
in mein Haus.
Der Hund bellt nicht mehr, wenn sie die Tür öffnet. Sie hat
immer einen Happen für den Hund dabei, das riecht er schon von weitem
und freut sich auf sie.
Ich mag sie sehr. Aber ich freue mich nicht immer auf sie. Die Happen
für mich sind nicht immer gut verdaulich. Sie klingelt und klopft
nicht, weil sie es eilig hat, weil es kein anderer hören soll und
weil sie sowieso zur Familie gehört.
"Wir müssen alles ändern", sagt sie atemlos.
"Das ganze Fest. Alles muss neu bedacht werden. Es geht so nicht."
"Was geht nicht?" frage ich.
"Das Fest, verstehst du."
"Wieso denn?" frage ich. "Was ist denn?"
"Stell dir vor", sagt sie atemlos, "meine Mariana bringt
ihren Freund mit."
"Na, wunderbar", sage ich, "das ist doch prima."
"Nein", beschwört sie mich mit ernstem Blick, "es
ist ihr fester Freund, verstehst du?"
"Na, gut", sage ich achselzuckend. Ich verstehe nicht. Ich verstehe
jedenfalls nicht richtig. Was soll ich denn verstehen?
"Es ist ..., naja..., verstehst du denn nicht? Ihr Freund!!"
wiederholt sie.
"Ja, und...?" frage ich.
"Ach", stöhnt sie halb vor Erleichterung, halb vor Tatendrang.
Und da sehe ich sie an, meine Nachbarin Maria, ich sehe sie an und beginne
zu verstehen, Und ich ahne, ich ahne etwas. Eine gewaltiges Naturereignis
kündigt sich an. Der Anfang einer neuen Zeit. Meine Nachbarin Maria
sieht, was sie immer erhoffte und herbeiwünschte. Wovon sie träumte,
woran sie glaubte, wofür sie sich die Hacken abrannte und betete.
Endlich! Land in Sicht! Maria ist Kolumbus bei der Entdeckung Amerikas
und sieht Land in Sicht! Hochzeitsglocken läuten. Seide knistert.
Orchideenbuketts. Goldschmuck. Festlich gekleidete Gäste. Gedeckte
Tische.
Ich ahne.
Ich ahne, was jetzt kommt. Maria trägt immer nur Röcke.
Das ist keine Modeerscheinung. Das ist ein Programm.
Das ist Marias Weltanschauung.
Maria ist der Tradition verpflichtet.
Und jetzt kommt, was kommen muss.
Wie alle portugiesischen Seefahrer wird sie nach langer Traumreise und
Irrfahrt, nach Jahren der Entbehrung und Hoffnung das Segelschiff verlassen
und das neue Terrain betreten und erobern - im kurzen Rock. Dafür
hat sie gearbeitet, geschuftet, gespart. Dafür ist sie nach Fatima
gewandert, auf Knien gerutscht, - immer mit kurzem Rock. Dafür hat
sie gebetet, Kerzen angezündet und manches Opfer gebracht. Dafür
hat sie ihren Sohn - geopfert, nun ja, das ist ein sehr großes Wort,
aber es mag wohl stimmen, denn sie hat ihn damals gedrängt, aus dem
Haus zu gehen, das Dorf und die Heimat zu verlassen. Soviel weiß
ich. Eine geheimnisvolle Geschichte. Es wird nie darüber geredet.
Kein Mensch im Dorf spricht von ihm. Dieser Sohn... Warum musste er vom
Hof gehen? Sowas nennt man doch ein Bauernopfer... Vielleicht geschah
das auch schon alles für die Hochzeit der Tochter Mariana.
Nun aber hat Maria Festland gesichtet. Nicht nur festes Land, also Boden
unter den Füßen nach der langen Schaukelei auf unsicheren Gewässern,
nach "des Meeres und der Liebe Wellen", sondern "Festland",
eine Zukunftsregion mit Feiern und Festen, mit Lachen, Essen und Fröhlichkeit.
Endlich wird wahr, was ihr schon in der Wiege fürs Leben mitgegeben
wurde. Sie heißt nämlich nicht Maria Dolores, sondern Maria
Serena. Ein merkwürdiger Zusatz zu ihrem Namen. Sie hat sich immer
darüber geärgert, dass ihr Vater ihr damals diesen Namen gegeben
hat. Er hatte sich damals sehr gefreut, als nach fünf Söhnen
endlich ein kleines Mädchen geboren wurde. Gelacht soll er haben
und vor Glück gejubelt soll er haben. Und dann ging er nach Venezuela
und kam nie mehr zurück. Die Mutter zog die sechs Kinder alleine
auf, und heiter und fröhlich war das Leben ganz selten. Nein, dieser
Zuname gefiel Maria gar nicht. Alle anderen Mädchen hießen
Maria einfach so oder noch mit dem Zusatz Schmerzensreich, Kostbar, vom
Himmel, von den Engeln oder Empfängnis. Sie hatte als Schulkind dann
einfach ihren Namen Serena als Serrana geschrieben, Maria aus den Bergen,
obwohl das doch gar nicht zu ihr passte, denn sie war ein Kind vom Lande.
"Warum heiße ich nicht Maria Verena, Verena ist doch viel schöner,
kein anderes Mädchen heißt Maria Serena, warum heiße
ich denn so?" fragte sie später einmal die alte Mutter, und
die sagte dann nur nachdenklich, dass ihr geliebter Mann damals so heiter
und dankbar gewesen sei... Damals, ja... ach, ihr geliebter Mann...
"Oh mein Gott", sagt Maria Serena, "wir müssen alles
besprechen. Morgen. Ich komme morgen, wenn ich überhaupt schlafen
kann. Du verstehst? Du begreifst?"
Und sie läuft flink davon.
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# 01
Ela só veste saias. Sempre.
De saia curta, xaile à volta da cabeça e dos ombros, sem
meias e de chinelos de feltro, veio à noite, pelo jardim, à
minha casa.
O cão já não ladra, quando ela abre a porta. Traz
sempre qualquer coisa para ele. O cão, cheirando de longe, fica
contente.
Eu gosto muito dela. Mas nem sempre fico contente. O que ela me traz nem
sempre é digerível. Não toca à campainha nem
bate à porta, porque está com pressa, para que ninguém
a possa ouvir ou porque ela, de qualquer modo, é como se fosse
da família.
«Temos que mudar tudo», diz ela sem fôlego.
«A festa toda. Temos que pensar novamente em tudo isto. Assim não
resulta.»
«O que é que não resulta?» pergunto eu.
«A festa, estás a compreender?»
«Porquê?» pergunto eu. «O que é que se
passa?» «Imagina» diz ela sem fôlego, «a
minha Mariana traz o seu amigo.»
«Então? É maravilhoso!» digo eu. «É
óptimo, não é?» «Não» diz
ela com um olhar de súplica «é mesmo o seu namorado,
entendes?»
«Pois.» Digo eu, encolhendo os ombros. Não compreendo
nada. Não compreendo bem. O que é que devo entender?
«É... então... não estás a compreender?
O namorado dela!!» repete ela.
«E então...?» pergunto eu.
«Ai» ela queixa-se entre aliviada e entusiasmada. E, de repente,
olho para ela, reparando na minha vizinha, eu olho para ela e começo
a perceber. E pressinto, começo a pressentir algo. Um gigantesco
fenómeno natural anuncia-se. O início de uma nova época.
A minha vizinha Maria depara-se com aquilo por que sempre esperou e por
cuja chegada ela ansiou. Com o qual ela sonhava, no qual ela acreditava,
para o qual ela andava a correr e a rezar. Finalmente! Terra à
vista! A Maria é Colombo no descobrimento da América, com
terra à vista! Os sinos de casamento estão a tocar. A seda
a crepitar. Buquês de orquídeas. Ouro. Convidados vestidos
para a festa. Mesas postas.
Pressinto, pressinto o que vem.
A Maria só veste saias. Sempre.
Isto não é uma questão de moda. É programa.
É a sua visão do mundo. A Maria sente-se obrigada a esta
tradição.
E agora vem o que tem de ser.
Como todos os navegadores portugueses ela, depois de uma longa viagem
onírica e de uma odisseia, quer sair do barco e pisar o novo terreno
e conquistá-lo de saia curta. Para isto ela trabalhou e
poupou. Para isto foi a Fátima, esfolando os joelhos sempre
de saia curta. Para tudo isto ela rezava, acendia velas e fazia um ou
outro sacrifício. Para isto deu o seu filho, pois, é uma
grande expressão, mas deve ser verdade, porque, naquela altura,
empurrou-o para fora da casa, levando-o a deixar a aldeia e a pátria.
É tudo quanto sei. Uma história esquisita. Nunca se fala
disso. Não há ninguém na aldeia que fale dele. Aquele
filho... Porque teve de ir embora da quinta?
Talvez tudo isto já tivesse acontecido por causa do casamento da
filha Mariana.
Mas agora, então, a Maria viu terra firme. Não só
terra firme, quer dizer chão debaixo dos pés depois de um
longo período de baloiço nas águas inseguras, depois
das ondas do mar e do amor, mas realmente "terra sagrada", um
território no futuro cheio de festas, gargalhadas, comida e alegria.
Finalmente torna-se realidade o que já lhe tinha sido dado no berço
para a vida. Na realidade, ela não se chama Maria Dolores mas sim
Maria Serena. Um aditamento esquisito. Ela zangou-se sempre por o pai
lhe ter dado este nome. Ele ficou muito feliz, quando, naquela altura,
depois de cinco rapazes, nasceu finalmente uma menina. Deve ter rido e
rejubilado cheio de alegria. E depois foi-se embora para a Venezuela donde
nunca voltou. A mãe criou os seis filhos sozinha, e raras vezes
a vida foi serena e alegre. Não, a Maria não gostava nada
deste nome. Todas as outras meninas se chamavam simplesmente Maria ou
tinham como segundo nome Dolores, Preciosa, do Céu, dos Anjos ou
da Conceição. Quando andava na escola, escrevia o nome Serena
como "Serrana", a Maria da Serra, mesmo que não lhe assentasse
porque era uma filha do campo. «Porque não me chamo Maria
Verena, Verena é mais bonito, não há nenhuma menina
que se chame Maria Serena, porque é que eu me chamo assim?»
perguntou algum tempo mais tarde à sua mãe já idosa.
E ela disse que o seu amado marido tinha ficado tão sereno e agradecido.
Naquela altura, sim... ai, o seu amado marido...
«Ai Jesus!» diz a Maria Serena. «Temos que discutir
tudo. Amanhã. Venho amanhã, se conseguir dormir, de qualquer
maneira. Percebes? Estás a compreender?»
E, despachando-me, vai-se embora.
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